A substituição de tecnologias mecânicas pelas digitais em sistemas de alarmes na indústria petroquímica (NRs 16 e 20) pode se tornar um risco à segurança sob certas circunstancias. Neste artigo, traduzido de OHS on line para o NRFACIL, um engenheiro de instrumentação e auditor de segurança, argumenta sobre o assunto, sendo tema pertinente a vários outros tipos de indústria e de interesse de TSTs e Engs. de Segurança (NRs 4 e 9). O artigo sugere um foco em dispositivos que, mesmo antigos, ainda podem funcionar de forma adequada e contribuir para a redução de riscos, desde que recebam manutenção adequada (NR 12).
SEGURANÇA FAMILIAR
Imagine que você quer se sentir seguro em casa. Aí você precisa instalar um sistema de alarme de segurança. Talvez você acabe comprando o melhor sistema no mercado com todos os recursos disponíveis, sirenas, apitos, sinos, etc. Mas após o alarme ser instalado, será que você vai deixar de fechar as portas e manter as janelas abertas? Claro que não, porque o sistema de alarme é apenas um componente de sua segurança como um todo; o sistema complementa o que existe, mas não o substitui.
De fato, eu vejo esse cenário diariamente em fábricas petroquímicas - por si só já se constituem locais perigosos onde se instalam vistosos sistemas de alarmes mas se acaba deixando as velhas portas fora das dobradiças.
É claro que eu não estou realmente falando de alarmes e portas. Isso é só uma metáfora para descrever um problema real na indústria: instrumentos falhos, especificamente os medidores e sistemas mecânicos. De fato, não é alarmante dizer que fábricas de processamento químico estão próximos de uma crise de segurança e o problema é muito mais comum do que muita gente pensa.
INDÚSTRIA PETROQUÍMICA
Um empregado de indústria petroquímica geralmente trabalha mais ou menos entre 3 a 7 metros de um medidor que têm falhas ou próximos de apresentarem falhas. Quando você considera como é vital leituras confiáveis de medidores para prevenir e avisar sobre perigos iminentes na indústria, você acaba encontrando estatísticas preocupantes. Ainda mais preocupante é quando tais medidores fazem parte de uma rede de conexões e assim um medidor que falhe não apenas para de avisar de forma precisa situações de perigo, mas principamente acaba se tornando uma fonte ou um meio de vazamento ou de fogo.
COMO CHEGAMOS AQUI?
Durante as últimas décadas avanços em equipamentos e sensores eletrônicos começaram a proliferar em fábricas de processamento químico de todos os tipos, inclusive em refinarias petroquímicas. Isto capacita engenheiros para monitorar as leituras mais necessárias a partir de uma sala de controle e praticamente todo mundo começou a adotar essa metodologia de gerenciamento de processo. Esses equipamentos eletrônicos acabaram substituindo os medidores mecânicos com um instrumento primário.
A manutenção apropriada desses medidores, entretanto, ficou esquecida e anos de negligência acabaram tornando esses instrumentos sem uso, ou mesmo tornando-se um risco. Quando as fábricas se moveram na direção de usar instrumentos e sensores eletrônicos, eles contrataram engenheiros elétrônicos especializados para manter os equipamentos. Especialistas em eletrônica, esses engenheiros não tinham habilidades e experiência - ou interesse - de fazer a manutenção apropriada desses equipamentos mecânicos. Essa responsabilidade geralmente era de engenheiros de instrumentação e controle mas seu número foi sendo reduzido devido a aposentadoria. Esses profissionais não foram repostos e as fábricas optaram por deixar o manuseio dos equipamentos mecânicos por técnicos do setor de manutenção.
É aí onde os erros humanos tem um preço. Sem a necessária qualificação ou treinamento para entender de forma ampla como são empregados os medidores, técnicos de manutenção não tem a perícia para identificar de forma consistente falhas instrumentais. Quando eles afinal identificam um problema, a prática é substituir um medidor por um novo que muitas vezes não se encaixa nas especificações SKU mas que parece próximo das especificações exigidas (Nota da tradução: SKU - stock keeping unit, em português, unidade de manutenção de estoque; detalhes no wikipedia).
QUAL O TAMANHO DO PROBLEMA?
É difícil falar em médias porque o número de medidores com necessidade de atenção depende de diversos fatores que variam de forma significativa entre as diversas fábricas. Até recentemente os melhores levantamentos indicam que 25% os medidores na média das refinarias estão falhando ou estão para falhar. Entretanto, dados coletados de mais de 250 fábricas auditadas recentemente registrou um número bem maior do que o que se esperava, ou seja, mais de 50% dos medidores dessas empresas estão mostrando leituras não confiáveis.
Cada um desses medidores problemáticos é um risco que pode levar a fábrica a parar a produção devido a lapsos de segurança ou perturbações graves de funcionamento. De acordo com o Ministério do Trabalho americano, um simples acidente representa um custo médio de mais de $150 mil dólares. Se um empregado morre nesse acidente, esse prejuizo pode chegar a $1 milhão de dólares. Esse quadro não inclue danos à propriedade, autos de infração, ações na justiça configurando um desastre de altas proporções. E se você considerar que um acidente pode resultar na interrupção de trabalho de mais pessoal para tentar corrigir o problema, imagine quão rapidamente esses custos podem evoluir para sair do controle.
RISCOS E ACIDENTES
Os riscos não estão limitados só à empresa. Um dos aspectos mais preocupantes são as emissões fugitivas. Esse vazamento de gás originado de uma conexão defeituosa pode afetar todo o sistema. Uma fábrica desse tipo contém mais de 300.000 pontos de conexão sendo que uma percentagem significativa são medidores. Uma falha em qualquer dessas conexões pode levar a emissões fugitivas as quais podem resultar em multas elevadas além de custos em relação aos danos ambientais, se os gases escapam para o meio ambiente.
COMO DAR UM JEITO NO PROBLEMA?
Uma abordagem apropriada para o problema de falhas em medidores tem dois componentes: corrigir a ameaça imediata e em seguida implementar um plano preventivo de falhas futuras. O problema é que a maioria das fábricas não tem recursos internos para se engajar em um projeto desse tipo e a terceirização tem um custo bem alto. Uma terceira opção vem de fabricantes de equipamentos que começaram a oferecer auditoria de instrumentação como serviços adicionais (garantia estendida) em fábricas que optarem por esse tipo de manutenção.
Não importa a quem atribuir a responsabilidade para conduzir uma auditoria confiável de medidores mas é de fundamental importância identificar e consertar o mais rápido possível medidores que estão falhando antes que eles causem um acidente.
Uma vez que os medidores que estão afetados sejam identificados e substituídos, é tempo de começar um trabalho de prevenção de problemas futuros. A primeira linha de defesa para conseguir esse objetivo é educação e qualificação. Um treinamento focado representa um longo caminho. Considerando que você não pode esperar que técnicos em instrumentação virem engenheiros com treinamento, você pode ensinar parâmetros para reconhecer quando um medidor necessita de atenção e como selecionar uma reposição apropriada (SKU). Uma outra técnica que ajuda bastante é desenvolver uma auditoria na sala de armazenagem dos equipamentos em estoque. Isto reduz equívocos quando for tempo de selecionar uma peça de reposição.
Mesmo que a tecnologia tenha tornado seguras muitas fábricas, nós devemos nunca aceitar aumentos nas depesas de sistemas antigos que continuam exercendo funções importantes, particularmente quando a segurança está envolvida. Assegurar a integridade de medidores mecânicos é um processo de baixo custo que resulta em significativa economia na segurança.
CONEXÃO COM AS NRs
Prof. Samuel Gueiros
Abra a pasta de NRs no site para comparar o assunto com algumas normas. Nas 4 e 9 vemos os principais parâmetros para a Gestão dos Riscos. Em seguida, acesse no Remissivo os princípios gerais da NR-12 e outros itens que estão em estreita conexão com o assunto deste post:
A NR-20 estabelece os seguisitos para a Segurança Operacional nas atividades relacionadas a Combustíveis e Inflamáveis, com ênfase neste item a emissões fugitivas:
A NR 20 estabelece ainda normas específicas para a Manutenção e Inspeção das instalações:
Autor:
Jason Deane
Eng de Instrumentação e Membro de uma Equipe de Auditoria
OHS on line
Tradução e contextualização com as NRs:
Grupos no Whats App em Segurança no Trabalho?
(21) 97399-8848